12 maio 2015

LER NÃO PAGA IMPOSTO


"Ela tinha tranças, sempre tranças compridas e loiras que a minha mãe lhe fazia. Mas eu, não!
Eu tinha que usar o cabelo muito curto, porque era encaracolado e não obedecia à escova, e diziam-me que estava sempre despenteado.
Confesso que tinha inveja da minha irmã e das tranças dela, e às vezes sonhava que o meu cabelo crescia durante a noite, como o da história do Sansão, que me contavam na catequese.
Tive pena, até que um dia! Mais precisamente até ao dia em que o ministro das Finanças anunciou na televisão que os cabelos iam começar a pagar impostos. Os loiros pagavam o imposto mais caro, porque toda a gente tinha a mania que o loiro é que era bonito e andavam todos a pintá-lo dessa cor. 

Ministro das Boas Ideias
Fonte Blog Pepino em Conversa
E eu suspirei de alívio: ainda bem que o meu era preto como as azeitonas (as pretas, claro, porque também há verdes, mas eu não tinha o cabelo verde!). Os ruivos vinham a seguir, que de repente estavam na moda, por causa das actrizes de cabelos cor de cobre.
Os castanhos e os pretos eram mais em conta, o que era bom porque queria dizer que a maioria dos portugueses não tinha que dar tanto dinheiro para os cofres do Estado.
Mas a altura dos cabelos também era taxada (...)
A minha irmã quis, no mesmo momento, cortar o dela. Mas o Ministro das Finanças estava farto de saber aquilo de que os portugueses são capazes para não pagar impostos, por isso tinha expressamente proibido toda a gente de cortar os cabelos nos seis meses seguintes à publicação da lei. (...)
Mas o melhor ainda estava para vir: como a lei proibia o corte de cabelos, a minha mãe não podia mandar cortar o meu. Nem cortá-lo em casa. Mesmo que eu nunca o penteasse e ele a cada dia que passasse ficasse mais comprido e mais emaranhado! E ainda dizem que os ministros não têm boas ideias!"

                                                                                       

Esta pequena história faz parte do livro 





Como se explica na contracapa do livro:
Este livro é principalmente para pais que às vezes não têm mesmo tempo, mas é muito mais que isso: é uma oportunidade de se rir com o seu filho, de cortar com o politicamente correcto, de se juntarem os dois para virar o mundo de pernas para o ar. Por um minuto e meio que seja. As mães podem lê-las, mas foram escritas para a voz de um pai. São histórias com bruxas e fadas - tem mesmo que ser! - mas também com ministros e impostos, engarrafamentos e chefes chatos. Só que ao contrário da vida real, tudo isto pode ser transformado noutra coisa, desde que se saiba estalar os dedos. Porque os lugares aonde os livros nos levam ficam na memória para sempre.




Isabel Stilwell nasceu em 1960, é jornalista e escritora. Começou aos 21 anos no jornal Diário de Notícias. Fundou e dirigiu a revista Pais & Filhos, onde mantém uma crónica mensal. Foi diretora da revista Notícias Magazine durante 13 anos e diretora do jornal Destak até finais de 2012. Todos os sábados escreve no Jornal i, sobre diversos temas da atualidade. Escreve também para a revista Máxima, tendo uma das suas peças sobre adoção em Portugal, "Não amam nem deixam amar" em conjunto com a jornalista Carla Marina Mendes, sido distinguida com o 1º Prémio de Jornalismo "Os direitos da criança em notícia". Tem um programa na rádio Antena 1, "Dias do avesso "onde conversa com o psicólogo Eduardo Sá.
Paralelamente, escreve livros de ficção, contos e histórias para crianças, sendo a sua grande paixão os romances históricos, como por exemplo D. Catarina de Bragança e D. Amélia, que têm sido sucessos de vendas.


No dia 22 deste mês comemora-se o 
Dia do Autor Português 
Vem até à Biblioteca ver a pequena exposição que preparámos para ti, sobre esta autora e muitos outros.






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