Foi com este pensamento que o gato Karl, decidiu abrir um "negócio", uma
Palavraria.
O Karl é persistente. Fracassada a primeira tentativa para mudar o mundo, abre a Palavraria: uma loja onde nada vende, apenas oferece palavras de desentristecer, para ajudar os outros a rasgar caminho na escuridão. Debaixo duma magnólia branca, pela tarde, lá está Karl, com o seu caderninho.
É visitado por muitas crianças. Uma delas, Amália (Rodrigues), a quem Karl pediu que lhe contasse da sua tristeza. Não estava triste, garantiu Amália. Ele olha-a bem nos olhos e vê uma tristeza antiga. Muito antiga.
- É saudade - responde Amália.
- Menina Amália, o melhor remédio para a saudade é cantá-la.
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Caricatura de Amália Rodrigues |
- Como?
Karl oferece-lhe as palavras: mar, povo, longe, Lisboa e muitas outras, cheias de melancolia, a voz da menina Amália irá iluminar o futuro.
Outra menina o visita, Matilde Rosa Araújo, que confessa que a tristeza e a melancolia deviam constar da lista de epidemias da Organização Mundial de Saúde. Karl, pensativo, diz-lhe no entanto, que ela um dia mais tarde, ajudará a criar uma vacina contra essa epidemia, pois o seu ofício será o da partilha da palavra.
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Caricatura de Matilde Rosa Araújo por Francisco Oliveira |
Da autoria de Francisco Duarte Mangas, "A Palavraria" é a segunda história de Karl - um gato diferente à procura de improváveis vitórias contra o preconceito.
O vocábulo palavraria não caiu, por enquanto, na rede dos linguistas - nem na memória do mundo. Vamos mudar isso?
BOM FIM DE SEMANA