Com certeza que, durante estas
férias, estiveste a brincar com primos ou outros familiares e até com
amigos, com os quais costumas passar algum tempo no verão.
Brincaram muito, na praia ou no
campo, e até leram livros em conjunto.
Provavelmente, estiveram todos
juntos no mesmo sítio, formando uma grande família.
Ilustração Faby |
Este fim de semana
queremos que conheças, não uma família grande, mas uma família numerosíssima, que
vive no lugar mais improvável que possas imaginar.
Pois é, essa família vive debaixo
da cama do Manel, a zunir-lhe aos ouvidos pela madrugada dentro: é a família
dos medos. O pai medo é um Terror, a mãe Apavorante solta uns uivos de fazer
estremecer a trovoada e, quando o tio aparece, acreditem que é um Susto. Há
também um medito medricas e pequenote, um medinho miúdo que tem um grande
segredo: é o Miúfa, um medo que tem medo ao próprio medo. O Manel, bom miúdo,
tenta ajudá-lo. Mas será que faz bem?
Foi uma carga de complicadices
bem complicadas conseguir depois expulsá-lo de dentro de si.
O Manel e o Miúfa, o
medo medricas
Texto Rita Taborda
Duarte
Ilustrações Maria
João Lima
Editorial Caminho
Eu chamo-me Manel, tenho dez anos
e acredito em tudo: em homenzinhos de sombra que nos invadem as paredes do
quarto, em dragões felpudos de dentuça amarela, arreganhada, em famílias de
medo, numerosíssimas, a viver debaixo da nossa cama, à espera da melhor
oportunidade para nos assaltarem os sonhos. Algumas pessoas chamam-me medroso e
dizem-me que não se deve ter medo. E eu fico a pensar que faz muito pouco
sentido aquilo que me dizem: porque mesmo que não tenhamos medo, é certo que o
medo nos tem a nós. E isso pode ser terrivelmente assustador: se deixarmos o
medo entrar para dentro de nós, somos nós, afinal, que ficamos prisioneiros do
medo.
Não é nada fácil explicar tudo
isto às pessoas adultas que são, quase todas, muito pouco espertas. E há uma
razão científica para que tal suceda, porque nada no mundo acontece por acaso e
são raras as coisas que sucedem por magia: é que à medida que o corpo cresce,
cada vez mais perto das nuvens e mais longe do chão, o cérebro vai definhando
devagarinho, porque o pobre coração não tem força para transportar o sangue até
à cabeça, lá tão ao alto, no cimo encarrapitado dos pescoços; além do mais, o ar
que se respira lá por cima é muito mais rarefeito e pobrezinho, com muito menos
oxigénio. Assim, à medida que ganham em centímetros, as pessoas vão perdendo em
inteligência.
Não sejas medricas, vem à
Biblioteca requisitar o livro e descobre como é que o Manel conseguiu
fotografar a família dos medos, enquanto eles esbracejavam debaixo da sua cama.
Rita Taborda Duarte, nasceu em
Lisboa, em 1973.
Licenciou-se em Línguas e
Literaturas Modernas − Variante Estudos Portugueses, na Faculdade de Letras da
Universidade de Lisboa, onde concluiu também um mestrado em Teoria da
Literatura. É docente do ensino superior.
Fez crítica literária no
suplemento literário do Jornal Público e colabora regularmente com crítica de
poesia e ensaio em diversas publicações da especialidade. É membro da Comissão
de Leitura da Fundação Calouste Gulbenkian.
Em 1998, publicou o seu primeiro
livro de poesia, Poética Breve, a que
se seguiram Na Estranha Casa de um Outro:
Esboço de uma Biografia Poética e Dos
Sentidos das Coisas, com coautoria de André Barata. Está representada em
diversas antologias literárias.
Venceu, em 2003, o Prémio
Branquinho da Fonseca, atribuído pela Fundação Calouste Gulbenkian e pelo
jornal Expresso, com o original A
Verdadeira História da Alice, obra destinada à infância. Desde então, tem
publicado com regularidade livros destinados a crianças e jovens, que se
caracterizam pela ironia, subversão da realidade e uma particular atenção aos
jogos de linguagem.
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