24 maio 2024

O LIVRO DO ANO

 "1 de Maio

Todos os dias faço coisas estranhas, pois tenho medo do Instituto das Pessoas Normais. O vizinho de baixo diz que eles aparecem a meio da noite ou a meio do dia, quando menos esperamos. Trazem uma mala e, nessa mala, um questionário. Se formos normais, eles internam-nos. 

4 de Maio

Hoje, um homem aproximou-se de mim. Vestia fato e usava gravata, mas eu reconheci-o de imediato. Era um homem do Instituto. Estava disfarçado de pessoa normal. Perguntou-me as horas e eu disse: Tenho dois trovões dentro dum envelope dos correios. O da esquerda é de madeira e o do meio é fêmea. É assim que nascem as cartas. Ele, surpreendido com a minha resposta, foi-se embora e não me internou. Mas, por via das dúvidas, fui para casa com os sapatos calçados nas mãos."

"O livro do ano", de Afonso Cruz, são páginas feitas de memórias, do diário de uma menina que atira palavras aos pombos e sabe quanto tempo demora uma sombra a ficar madura. 



Escreve,  mesmo em dias imaginados.

"30 de Fevereiro

Caí na rua de baixo e fiz uma ferida no joelho. Foi exactamente neste dia que comecei a escrever este diário."


Vamos ver o mundo pelos olhos de uma criança?



Ilustração Aoyama Kazuyo




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