O poema - Antes que seja tarde - é da autoria de
Manuel da Fonseca, escritor e
poeta, nasceu em Santiago do Cacém, em 1911 e faleceu em Lisboa, em 1993. Foi um
dos maiores escritores do neorrealismo literário português.
Começou por publicar poesia,
prosseguindo com prosa de ficção, revelando-se um escritor de tendência
regionalista e de funda preocupação humana, que retrata a vida pobre dos
trabalhadores rurais do Alentejo, dando especial realce à sua luta contra a
injustiça e a miséria.
Teve através da sua arte uma
intervenção social e política muito importante.
Antes que seja tarde
Amigo,
tu que choras uma
angústia qualquer
e falas de coisas
mansas como o luar
e paradas
como as águas de um
lago adormecido,
acorda!
Deixa de vez
as margens do regato
solitário
onde te miras
como se fosses a tua
namorada.
Abandona o jardim sem
flores
desse país inventado
onde tu és o único
habitante.
Deixa os desejos sem
rumo
de barco ao deus-dará
e esse ar de renúncia
às coisas do mundo.
Acorda amigo,
liberta-te dessa paz
podre de milagre
que existe
apenas na tua
imaginação.
Abre os olhos e olha
abre os braços e
luta!
Amigo,
antes da morte vir
nasce de vez para a
vida.
Manuel da Fonseca, in
Poemas completos
Editora Forja
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